Alimentação e pH sanguíneo

Alimentação e pH sanguíneo

Alimentos de origem vegetal ajudam a manter o pH levemente alcalino no sangue. Mas por que isso é importante?

Por Bruna Genaro

 

pH7 é neutro. Quanto mais acima disso, mais alcalino; e quanto mais abaixo, mais ácido. Parece até uma aula de química, mas isso tem que ver com sua alimentação. A dieta considerada alcalina, com pH (Potencial de Hidrogênio) acima de 8, tem sido muito difundida como sendo a “dieta que regulariza” o pH sanguíneo. No entanto, a alimentação pode influenciar o pH do sangue, mas não é um fator determinante para a mudança do pH sanguíneo.

Segundo a nutricionista da Clínica Adventista de Curitiba – PR, Lislei Flores, o estado de equilíbrio do pH sanguíneo varia entre 7,35 e 7,45, sendo levemente alcalino. O pH é a medida que define se um elemento ou composto é ácido, neutro ou alcalino, o que é determinado pela concentração de íons hidrogênio. A tabela de variação de pH vai de 0 a 14, sendo o pH 0,0 o máximo de acidez e o pH 14,0 o máximo de alcalinidade. O pH 7,0 é neutro.

“Esse equilíbrio, chamado ácido-básico, depende de mecanismos reguladores realizados por meio dos rins (controle hídrico), pulmões (respiração) e sistema tampão (mistura de componentes básicos e alcalinos). Esses sistemas juntos permitem a manutenção do pH sanguíneo nos níveis de normalidade, apesar da carga ácida dos alimentos e do metabolismo tecidual”, explica a especialista.

“Assim, mesmo que eu coma algo muito ácido ou muito alcalino, o pH do sangue permanecerá estável (valores alterados do pH sanguíneo revelam doenças graves). Contudo, a alimentação do ser humano de hoje eleva a acidez do ambiente celular, o que irrita e provoca inflamações crônicas nos tecidos, criando as bases para as doenças que mais matam na atualidade”, acrescenta a escritora especialista em tratamentos naturais Elisa Biazzi.

Para o cientista alimentar Tiago Rocha, nunca na história a humanidade se consumiu tantos alimentos ácidos como atualmente. “A célula humana tem em torno de 7,35 a 7,45 de pH. Quando a célula chega a 5,0, ela passa por algo chamado apoptose, ou suicídio celular. A célula se mata porque, se ela se copiar nessa situação, pode duplicar uma célula cancerígena. Uma das estruturas que fazem esse trabalho é uma proteína chamada p53. Ácida demais, ela leva a célula a se matar. Explode, literalmente! Uma pessoa com 30 anos já escapou de ter câncer várias vezes. Só não teve por esse motivo. Claro que o câncer não está vinculado somente à alimentação”, esclarece.

De acordo com a coordenadora de nutrição do Hospital Adventista de Manaus, Kelly Barboza, a alimentação determina a qualidade que o corpo terá interna e externamente. “Alguns alimentos vão exigir mais do corpo para que retorne o pH natural, e há alimentos que vão até contribuir para que o pH do corpo esteja de acordo com o adequado. Temos um pH de neutro para básico, então, o pH ácido compromete várias estruturas do corpo; o metabolismo de forma geral. Não é só uma questão de pH ácido ou básico, mas desse comprometimento acabam surgindo doenças”, ressalta.

Alimentos ácidos

A dieta alcalina preconiza consumir 30% de alimentos ácidos e 70% alcalinos. A maioria dos alimentos ácidos advém do reino animal. “Aves, peixes e frutos do mar, os refinados (açúcar, sal, trigo, milho, arroz), açúcares químicos ou adoçantes, remédios, álcool, refrigerantes, manteiga, iogurte, óleos e gorduras hidrogenadas, frituras, café, chá preto, mate, entre outros”, enumera Elisa.

Dentre eles, Kelly Barboza destaca o açúcar: “Os açúcares são os maiores vilões, principalmente os refinados, como uma bomba glicêmica para o corpo. O carboidrato abaixa o pH, então volumes grandes de açúcares prontos para ser absorvidos têm um impacto maior no corpo. Uma bebida que todo mundo conhece e que abaixa bastante o pH é o refrigerante, porque, além de ser ácido, ainda contém muito açúcar.”

No caso de refrigerantes à base de cola, por exemplo, o pH do líquido pode chegar a 2,0. “Não só pelo pH; o refrigerante não tem nenhum nutriente benéfico para o corpo. Todos os refrigerantes são ruins. Quanto de vitamina C tem em um refrigerante à base de cola? Agora, quanto tem de corante nesse mesmo refrigerante? Só tem malefícios. A única coisa que seria boa é o paladar, mas quando você desacostuma, ele não é gostoso”, diz Kelly. Elisa acrescenta: “Não precisa ser em excesso para prejudicar a saúde. Nosso organismo absolutamente não está preparado para receber essas fórmulas de refrigerantes.”

Estilo de vida

Além da alimentação, o estilo de vida também é um fator influente na mudança do pH sanguíneo. “Com certeza, o estilo de vida interfere no equilíbrio ácido-básico. Exatamente pelo fato de termos como mecanismos reguladores os rins, pulmões e o sistema tampão, todas as situações que interferem nesses sistemas são passíveis de interferir no controle do pH”, explica Lislei. “Quando se fala de estilo de vida, o repouso e o exercício físico contribuem bastante. Mesmo que se tenha uma vida estressante, é necessário um escape para melhorar o impacto que o estresse causa no corpo”, acrescenta Kelly.

Segundo Elisa, há outros fatores que igualmente interferem no equilíbrio do pH: “Oração e meditação que promovem uma respiração lenta e baixa frequência cardíaca; exercícios moderados, ar puro (o ar carregado de CO2 [acidificante] é o fator ambiental que mais mata no mundo), água na medida certa, com pH neutro ou alcalino, luz do sol, sentimentos de paz e alegria favorecem à normalidade do pH.”

A acidez do sangue ocorre por um desequilíbrio metabólico que afeta os sistemas reguladores do pH (rins, pulmões, tampões). “Acidez no sangue (acidemia) afeta o equilíbrio metabólico e, consequentemente, a imunidade (sistema de defesa do organismo) e, com isso, muitas doenças podem surgir, como câncer, doenças inflamatórias, infecciosas, osteoporose e obesidade”, explica Lislei. E acrescenta: “Não podemos esquecer que a alimentação e o estilo de vida inadequados afetam os órgãos que regulam o pH sanguíneo (rins, pulmões e tampões), afinal de contas, essa é uma das funções desses sistemas. Então, podemos dizer, mas não afirmar, que a má alimentação e estilo de vida ruim, por si sós, causam a acidemia.”

Segundo Elisa, que também é biomédica, “a acidez do organismo prejudica o trabalho das enzimas e o metabolismo celular. Quando crônica, desmineraliza tecidos, como o ósseo, resultando em doenças e irregularidades funcionais de órgãos e glândulas. O pH ácido pode, inclusive, modificar a estrutura das proteínas. Geralmente, o pH de tecidos cancerosos é por volta de 4,5 – muito ácido. O Dr. Otto Warburg, da Alemanha, recebeu o prêmio Nobel por suas pesquisas, revelando a afinidade do câncer com ambientes ácidos”.

Menos carne, mais vegetais

Para uma dieta alcalina é importante trocar a carne e os laticínios por alimentos de origem vegetal. Muitos médicos são contra a dieta por causa dessa recomendação. Os especialistas ouvidos por Vida e Saúde acreditam que é possível ter uma alimentação saudável sem precisar dos alimentos de origem animal.

“Uma ótima nutrição vem do equilíbrio adequado entre macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras), micronutrientes (vitaminas e minerais), fibras e ingestão de água. Com alimentos de origem animal ou não, se suprirmos o organismo com a quantidade diária adequada dos nutrientes citados, dificilmente haverá carências nutricionais. É bom lembrar que a carência nutricional pode não vir somente da ingestão inadequada de nutrientes, mas também de fatores relacionados ao estilo de vida”, enfatiza a nutricionista Lislei.

“É possível, sim, substituir alimentos animais por alimentos de origem vegetal, visando à saúde. É bom lembrar que entre não consumir alimentos de origem animal e não fazer a substituição adequada, melhor seria consumir o alimento cárneo, porque, pelo menos, ainda se podem obter os nutrientes. Mas, se você está pensando em uma alimentação realmente saudável, substitua a carne e obtenha benefícios imensos”, diz Kelly.

Elisa acrescenta: “Hoje existem pesquisas e estudos científicos que revelam os múltiplos benefícios da dieta vegetariana. De acordo com essas pesquisas, essa é a dieta que proporciona longevidade digna e produtiva. Uma dieta rica em vitaminas, sais minerais, antioxidantes, fitoquímicos, glicose e das proteínas que se completam entre si.”

Kelly dá dicas de como fazer a substituição da carne: “Quando pensamos em substituição, não é apenas o que o alimento representa dentro de um prato, são todos os nutrientes envolvidos. Para quem está acostumado a consumir carne, embora ela predisponha o corpo a ter um pH mais ácido, para substituí-la é preciso substituir proteínas, ferro, alguns micronutrientes, vitaminas e outros minerais. Se não encontro isso em apenas um prato, preciso substituir por vários alimentos a fim de repor a carne.”

Alimentos alcalinos

Para quem quiser seguir a dieta alcalina, vale lembrar que tanto a acidemia quanto a alcalinidade são prejudiciais à saúde – a última sendo mais rara e menos incidente. “É necessário haver equilíbrio na ingestão de alimentos ácidos e alcalinos, mas também na quantidade de alimentos consumidos. Acredito que só há benefícios em privilegiar os alimentos propostos na ‘dieta alcalina’, pois trazem consigo uma carga de nutrientes bem importantes”, diz Lislei.

Para Kelly, a dieta alcalina pode provocar menor desgaste no corpo. “A dieta também contribui com menos radicais livres circulando, o que proporciona mais antioxidantes contribuindo para captar esses radicais e eliminá-los, ou transformá-los em coisas boas. Seria um benefício para o corpo, diminuindo a possibilidade de doenças.”

“Os minerais cálcio, zinco, ferro, magnésio, sódio, potássio e manganês são fortes alcalinizantes e atuam como elementos energizantes e neutralizadores. A ingestão de água, preferivelmente de pH levemente alcalino ou acima, é de fundamental importância na manutenção do pH sanguíneo”, afirma Kelly.

“O cálcio é o mineral mais utilizado pelo organismo para neutralizar a acidez. Se você sofre com unhas frágeis, osteoporose, cáries frequentes e anemia, pode ser que sua dieta seja muito ácida, o que obriga seu organismo a constantemente utilizar o cálcio dos tecidos formadores das estruturas citadas, fragilizando-as”, explica Elisa. E acrescenta: “Sementes ricas em cálcio, como gergelim, amêndoa e chia, são importantíssimas.”

Há também os alimentos ácidos apenas ao paladar. “Ácidos não são ruins. Por exemplo, o limão é ácido fora, mas, quando entra em contato com o estômago, torna-se alcalino. Abacaxi e laranja são ótimos ácidos, pois contêm o ácido ascórbico, a conhecida vitamina C, que ajuda a fortalecer a imunidade”, diz Tiago Rocha.

Fonte: Revista Vida e Saúde

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